8 de março, Dia Internacional da Mulher: Uma data que deveria ser inclusiva, mas que, muitas vezes, se torna ponto de exclusão, pois, até hoje, “ser mulher” gera discussão e controvérsia.
“Não se nasce mulher, torna-se mulher” a célebre frase de Simone de Beauvoir provoca reflexão e discussão. O que faz uma pessoa tornar-se mulher? A biologia? A sociedade? O autorreconhecimento? Sempre é tempo de se pensar sobre essas questões, mas, neste 8 de março, a gente quer te convidar a celebrar e refletir.
Quem (ou o quê) define o que é ser mulher?
GAROTAS DE IPANEMA, MINAS DE MINAS, LOIRAS, MORENAS, MESSALINAS*
A ideia do que é “ser mulher” foi ganhando diferentes contornos com o passar do tempo. A pluralidade do feminino faz com que seja difícil dizer o que é ser mulher de maneira definitiva.
A gente pode dizer que ser mulher é ser “feminina”? Bem, amg, poder até pode, mas ser mulher é muiiitooo mais que isso. O que é entendido como “feminino” é só um conjunto de ações e comportamentos tidos como padrão, construídos pela sociedade, para a mulher. Só que nem toda mulher performa feminilidade e ainda tem pessoas que não se identificam como mulher e performam o que a sociedade colocou como “feminino”.
O gênero feminino – assim como o masculino – é uma questão cultural, não se tratando de uma determinação biológica. Então, se o gênero é uma questão cultural, podemos pensar que a biologia só nos leva até certo ponto e que, ao longo da vida, é possível se reconhecer como mulher, ainda que não tenha sido esse o gênero atribuído no nascimento.
Tenho pra mim que mulher é uma questão de essência, e não de aparência. E, como não há limites para o que uma mulher pode conquistar, o primeiro passo é conquistar-se a si mesma, se reconhecer e se afirmar como mulher.
Empoderar-se desse sentimento e poder se afirmar como mulher é o caminho que as manas trans trilham em suas jornadas. Porém, algumas vezes, as pautas feministas, que deveriam unir e alicerçar todas nós, podem se tornar excludentes, e por isso é tão importante, neste Dia Internacional da Mulher, falar sobre o transfeminismo.
O transfeminismo é um movimento de inclusão das mulheres transgênero nas discussões a respeito dos direitos da mulher. Se desejamos uma sociedade mais justa e menos regida pelas camadas cis-hétero-patriarcais que alicerçam o mundo, é fundamental ter minas trans fazendo parte do movimento feminista, até porque o patriarcado oprime mulheres, sejam cis ou trans, nos limitando a papéis que julgam “femininos” e cerceando nossa sexualidade, nossos corpos, pensamentos, sentimentos e retirando nossos direitos.
Todas nós sofremos violências diárias, por isso precisamos fazer do feminismo um movimento transinclusivo e dar a cada uma de nós, todas as mulheres, mais força para lutar por igualdade e liberdade em todas as esferas sociopolíticas.
SANTAS SINISTRAS, MINISTRAS MALVADAS, IMELDAS, EVITAS, BENEDITAS ESTUPR*DAS*
Se é fato que nós temos conquistado cada dia mais direitos e temos nos empoderado cada dia mais a respeito das nossas verdades diante desse sistema patriarcal, também é fato que ainda estamos muito longe do cenário ideal.
É preciso abrir mão dessa ideia de que nada mais há para ser conquistado, que temos leis que nos protegem e direitos garantidos por essas leis. Estamos apenas começando a caminhar.
Embora nas eleições de 2022, 33% dos candidatos ao cargos eletivos fossem mulheres, apenas 18% delas foram eleitas para a Câmara Federal, sendo que 4 estados brasileiros não elegeram nenhuma mulher!
Entre as mulheres eleitas, 25% têm cônjuges em cargos eletivos, ou seja, boa parte se elegeu com a contribuição da base eleitoral dos cônjuges / ex-cônjuges. Isso é um problema porque denota que a ocupação desses cargos eletivos não se deu pela luta por pautas feministas, mas sim para fortalecer e ampliar o poder político desses cônjuges.
Quando o assunto é legislação, apesar de haver leis assegurando que homens e mulheres tenham direitos iguais, as mulheres seguem recebendo menores salários para exercer a mesma função que os homens, seguem sem ter direitos sobre o próprio corpo (como fazer uma laqueadura sem ter tido filhos, por exemplo), entre outros cerceamentos.
Sem contar que as mulheres em relacionamento heterossexual ainda precisam encarar dupla ou tripla jornada, tendo seu direito ao descanso colocado em segundo plano, pois há um entendimento social de que ela esteja sempre disponível e produtiva.
Sobrecarga, falta de direitos, violência de gênero, salários mais baixos estão entre os fatores que contribuem para que 25% das mulheres tenham mais risco de desenvolverem transtorno depressivo – contra 12% dos homens, segundo a FEBRASGO, isso sem levar em consideração momentos de vulnerabilidade como gestação, puerpério e menopausa.
TODA MULHER QUER SER AMADA, TODA MULHER QUER SER FELIZ*
E falando em ser amada e ser feliz, até mesmo nesse campo, nós ainda estamos caminhando. Segundo o Censo do Sexo,realizado pela pantynova, enquanto homens atingem o orgasmo durante a masturbação entre 79% e 95% das vezes, as mulheres alcaçam o ápice do prazer em apenas 63% a 68% das vezes, dependendo da orientação sexual.
E se formos falar de sexo com outra pessoa, piora! As mulheres chegam ao orgasmo somente entre 15% e 28% das vezes.
O que falta, então, para que as mulheres vivam sua sexualidade de forma plena? Bem, vou deixar essas dicas aqui, como quem não quer nada:
- Conhecer seu corpo e sua maneira de sentir prazer. Como? Com a boa e velha masturbação. Quanto mais você conhece seu corpo, maior a chance de você conseguir se fazer entender na hora do prazer.
- Fale sobre sexo, leia sobre o assunto, conheça, experimente. Com amgs, e principalmente, com mozão, pois a comunicação é essencial para estabelecer uma boa conexão sexual e, portanto, para conseguir gozar mais facilmente e mais gostoso.
- Tenha sex toys para usar sozinha ou acompanhada. Os vibradores e sugadores são uma excelente pedida para auxiliar a se conhecer melhor e sair da rotina.
VAMOS, GALERA, MULHERES
Realmente, muito já foi conquistado, no entanto ainda sofremos com machismo em todas as esferas da nossa existência. O caminho para sermos reconhecidas em relação à totalidade do que é ser mulher e dos nossos direitos ainda é longo, e poder contar com outras mulheres deixa essa caminhada menos pedregosa.
Segure a mão de uma mulher, elogiando, consumindo o trabalho dela, elegendo, se candidatando. Vamos criar um mundo onde cada uma de nós tenha o direito de se reconhecer como mulher enquanto sujeito e ter sua essência e sua existência respeitadas. Hoje e todos os dias.
E pra fechar com chave de ouro, não vamos esquecer que “O feminismo é para todo o mundo” (bell hooks).
* Versos da música “Todas as mulheres do mundo”, de Santa Rita Lee, padroeira das Ovelhas Negras
por: Madame Te
